Dólar fecha a R$ 5,648, menor nível em cinco meses; Bolsa sobe
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar caiu 0,44% e encerrou a quarta-feira (19) cotado a R$ 5,648 -menor patamar desde 14 de outubro de 2024, quando terminou em R$ 5,582.
O dia foi pautado pela manutenção da taxa de juros norte-americana por parte do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) e pela expectativa em torno da decisão do BC (Banco Central) sobre a taxa Selic, a ser divulgada às 18h.
A moeda acelerou queda após o parecer da autoridade dos EUA. Na mínima do dia, chegou a R$ 5,632; na máxima, a R$ 5,693, ainda nos primeiros negócios da sessão.
Já a Bolsa teve mais um pregão de ganhos firmes e subiu 0,78%, a 132.508 pontos.
O Fed decidiu manter a taxa de juros dos Estados Unidos na faixa de 4,25% e 4,50%, no que foi a segunda manutenção consecutiva pela autoridade monetária. A decisão, já esperada pelo mercado, ocorre em meio a temores de uma recessão, influenciados pelas políticas voláteis dos primeiros dois meses do novo mandato de Donald Trump.
No comunicado, os dirigentes do Fed afirmaram que as incertezas sobre o cenário econômico cresceram, mas que os objetivos seguem sendo atingir o pleno emprego e convergir a inflação à meta de 2%. O “dot plot”, no entanto, mostrou que as políticas de Trump já começaram a entrar na conta dos membros do comitê.
O documento que apresenta as projeções dos dirigentes para a economia trouxe uma diminuição nas expectativas de crescimento do PIB este ano, de 2,1% para 1,7%. As de inflação, por outro lado, cresceram de 2,5% para 2,7%.
O dot plot informou, ainda, que os oficiais do Fed esperam mais um ou dois cortes de 0,25 ponto na taxa este ano -o mesmo que em dezembro. No entanto, quatro membros do comitê agora esperam que nenhum corte ocorra este ano, contra um em dezembro.
“É uma postura cautelosa diante das incertezas econômicas geradas pelas políticas do governo Trump, como tarifas comerciais e alterações no gasto público”, diz José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos.
O presidente norte-americano impôs tarifas sobre importações chinesas e compras de aço e alumínio -com ameaças de mais taxas à frente-, intensificou o controle da imigração e iniciou um processo de demissões em massa de funcionários do governo federal.
Para economistas ouvidos pelo Financial Times, a incerteza em torno das tarifas de Trump complicou a tarefa do Fed em enviar uma mensagem clara sobre a direção da economia. Nos últimos anos, o banco vem insistindo que é “dependente de dados” e se concentra mais nos últimos números de inflação e crescimento, em vez de modelar o futuro.
Alguns economistas, no entanto, temem que a dependência de dados retrospectivos coloque o Fed em desvantagem em um ambiente de crescente incerteza política e econômica, especialmente porque as pressões de preços induzidas por tarifas podem demorar para se refletir nos dados.
Até o momento, os indicadores mais observados pelo Fed sobre inflação e desemprego ainda não registraram um grande impacto dos planos de Trump. A taxa de desemprego subiu para 4,1% em fevereiro, a economia criou 151 mil postos de trabalho e a inflação continua acima da meta de 2%.
Segundo economistas, as medidas de Trump elevar os preços de uma série de produtos e provocar incertezas nos consumidores e empresários, que segurariam gastos e investimentos. O cenário desenhado é de uma “estagflação”, isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.
Em entrevista coletiva após a decisão, Jerome Powell, presidente do Fed, avaliou que é “muito cedo para ver efeitos significativos das tarifas”, mas que “o progresso na inflação pode ser adiado por causa delas” e que “boa parte das projeções de alta derivam da política tarifária”.
O potencial inflacionário das medidas de Trump pode forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados por mais tempo, o que costuma desestimular a procura por ativos de risco.
Mas, no caso do Brasil, a tese pode não se concretizar. Quanto maior a diferença entre os juros daqui e os de lá, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” -quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.
Essa diferença provavelmente irá aumentar nesta quarta, com um aperto de 1 ponto percentual na taxa Selic por parte do Copom (Comitê de Política Monetária). Os juros chegarão ao patamar de 14,25% ao ano, como sinalizado pelo próprio colegiado na reunião anterior, em decisão que será publicada após o fechamento dos mercados, às 18h.
“Essa será a última decisão seguindo o guidance [indicação] da gestão de Roberto Campos Neto. O mercado está dividido quanto ao tom do comunicado: alguns acreditam que manterá a sinalização de novas altas, ainda que em um ritmo menor, enquanto outros esperam que Gabriel Galípolo deixe a decisão em aberto para a próxima reunião, sem antecipar cortes ou novos aumentos”, diz Márcio Riauba, chefe da mesa de operações da StoneX Banco de Câmbio.
Fonte: Notícias ao Minuto Read More