Dólar sobe a R$ 5,710 na véspera de decisões sobre os juros no Brasil e EUA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na véspera de decisões sobre os juros no Brasil e Estados Unidos, o dólar fechou novamente acima do patamar de R$ 5,70, com alta de 0,36%, cotado a R$ 5,710, nesta terça-feira (6). No ano, porém, a divisa acumula baixa de 7,56%.
Mercados seguiram à espera da chamada “superquarta”, quando o Fed (Federal Reserve, o BC americano) e o Banco Central do Brasil vão anunciar a nova taxa de juros para os países. Acordos comerciais envolvendo o presidente Donald Trump permaneceram em foco.
No entanto, o otimismo que se instalou na semana passada com possíveis acordos vem se deteriorando. A falta de detalhes sobre as discussões tem trazido impaciência entre os investidores, o que prejudicou ativos mais arriscados nesta sessão, como o real.
Após flertar com o zero a zero na maior parte da sessão, a Bolsa encerrou com uma variação positiva de 0,01%, a 133.515 pontos. As ações do Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) despencaram 20,20% após resultados do 1º trimestre e puxaram o índice para baixo.
As ações da Petrobras sustentaram tanto o sinal positivo da Bolsa quanto uma precificação mais acentuada do dólar. A PETR3, ações ordinárias, com direito a voto em assembleias, avançou 1,57%, a R$ 32,27, enquanto a PETR4, ações preferenciais, com preferência por dividendos, ganhou 1,65%, a R$ 30,15.
Na véspera, a Bolsa havia fechado com queda de 1,21%, aos 133.491 pontos, com a petroleira como impulsionador da baixa depois de a Opep+ anunciar que vai acelerar os aumentos na produção de petróleo.
A semana estará cheia de decisões de bancos centrais pelo mundo sobre taxas de juros. O destaque será o anúncio do Fed na quarta-feira, com a expectativa de que manterá a taxa de juros inalterada. O Banco da Inglaterra, por sua vez, divulgará sua decisão na quinta-feira.
O foco dos investidores estará principalmente na forma como as autoridades desses bancos centrais veem os impactos das incertezas comerciais no crescimento econômico e na inflação.
“Temos uma certa ansiedade para as reuniões de política monetária. Não deve ter muita novidade, mas a dúvida está sobre a trajetória que virá a seguir, quais serão os próximos passos”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Por aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) publicará sua decisão na quarta, tendo já anunciado anteriormente que deve elevar a taxa Selic, agora em 14,25% ao ano, em uma magnitude menor que os aumentos anteriores recentes de 1 ponto percentual -81% das apostas apontam para uma alta de 0,5 ponto percentual, enquanto 19% preveem aumento de 0,25 ponto.
Em reunião da FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo), nesta terça, o vice-presidente e ministro da Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, voltou a defender que o Banco Central não considere as variações de preços de alimentos e energia ao analisar a inflação para tomar decisões de política monetária.
Alckmin disse que uma taxa Selic em nível alto tem um “impacto brutal” sobre o custo de capital e a competitividade do Brasil, além de um “efeito gigantesco” sobre a dívida pública.
O Fed deve manter inalterada a taxa de juros nos EUA em meio às tarifas de Trump, o que lança uma sombra de incerteza sobre as perspectivas econômicas. O Fed tem mantido a taxa básica de juros na faixa de 4,25% a 4,50% desde dezembro.
As autoridades do Fed preveem que as tarifas irão aumentar tanto a inflação quanto o desemprego, embora não se saiba ao certo em que grau e por quanto tempo.
Dados econômicos disponíveis até o momento não sugerem que a economia americana esteja desmoronando. Pelo contrário, dados divulgados na sexta, reforçados por dados desta segunda, mostraram que o mercado de trabalho do país continua estável, afastando algumas preocupações de recessão após o tarifaço global de Trump.
Na segunda, o Instituto de Gestão de Fornecimento informou que o PMI (Índice de Gerentes de Compras) do setor de serviços dos EUA aumentou de 50,8 em março para 51,6 em abril. Economistas consultados pela Reuters previam queda para 50,2.
Uma leitura do PMI acima de 50 indica crescimento no setor de serviços, que responde por mais de dois terços da economia norte-americana. O instituto associa uma leitura acima de 49 ao longo do tempo com o crescimento da economia como um todo.
Por outro lado, o déficit comercial dos Estados Unidos aumentou para um nível recorde em março, uma vez que as empresas ampliaram as importações de mercadorias antes das tarifas, o que levou o PIB (Produto Interno Bruto) americano a contrair no primeiro trimestre pela primeira vez em três anos.
O déficit comercial aumentou 14%, atingindo o recorde de US$ 140,5 bilhões, em comparação com US$ 123,2 bilhões em fevereiro, segundo o Departamento de Comércio dos EUA nesta terça-feira.
Os movimentos da moeda brasileira também ocorriam na esteira de uma aversão maior a ativos de risco nesta sessão, uma vez que os mercados começam a mostrar impaciência com a falta de detalhes sobre as negociações comerciais que os EUA vêm realizando com uma série de países.
O presidente Donald Trump disse nesta terça-feira que ele e as principais autoridades do governo analisarão nas próximas duas semanas os possíveis acordos comerciais para decidir quais serão aceitos.
Trump também disse que a China quer negociar um acordo comercial para acabar com as tarifas concorrentes.
“Eles querem negociar e querem se reunir”, afirmou. “E nós nos reuniremos com eles no momento certo.”
Desde que Trump, anunciou uma pausa de 90 dias para suas tarifas abrangentes do “Dia da Libertação”, autoridades da maior economia do mundo vinham sinalizando a possibilidade de acordos comerciais a fim de amenizar as taxas de importação.
Na semana passada, o otimismo em relação aos possíveis acordos favoreceu moedas mais arriscadas, como o real, mas o sentimento se deteriorava nesta semana com a falta de anúncios ou mais detalhes sobre as discussões comerciais.
Enquanto isso, Trump vem realizando novas ameaças tarifárias, com destaque para taxas sobre filmes produzidos fora dos EUA e produtos farmacêuticos, o que apenas tem gerado mais preocupações pela continuação da guerra comercial global.
“Os investidores ficam um pouco receosos ainda, porque não há anúncios de possíveis acordos comerciais. Os EUA ressaltam que estão negociando com diversas nações, que estão muito otimistas que esses acordos possam ser atingidos, mas não tem ainda muitas notícias concretas”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Neste cenário, o dólar atingiu a cotação máxima de R$ 5,7393, uma alta de 0,86%, às 10h43, para depois desacelerar os ganhos. O movimento coincidiu com a perda de força dos rendimentos dos Treasuries no exterior e com o avanço firme do petróleo.
“Se não fosse o petróleo ajudando o real, o dólar teria subido ainda mais”, comentou Rugik.
Fonte: Notícias ao Minuto Read More