Vítimas da criptomoeda divulgada por Milei abrem ação civil por fraude nos EUA
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Uma ação civil coletiva representando mais de 200 vítimas da criptomoeda $Libra, divulgada no X pelo presidente da Argentina, Javier Milei, antes de colapsar foi apresentada à Suprema Corte de Nova York, nos Estados Unidos, no final desta segunda-feira (17).
Trata-se da primeira ação judicial do tipo neste caso e que ocorre em um momento desafiador no país de Milei para investigações internas. O Ministério Público avalia o caso, mas no Congresso nenhuma proposta de investigar o presidente conseguiu ser aprovada.
A ação movida nos EUA pelo escritório de advocacia Burwick Law, voltado para ações do universo cripto, contempla pessoas de diversas nacionalidades que perderam dinheiro com o investimento e agora exigem o ressarcimento. O processo não acusa o presidente Milei -ainda que o descreva como um personagem central para essa fraude.
Os advogados se voltam contra três figuras em específico: a família Davis, dona da Kelsier Ventures, empresa responsável por lançar e divulgar a $Libra (e que se reuniu com Milei na Casa Rosada); Julian Peh, da Kip Protocol, companhia de infraestrutura de pagamentos por IA (que também se reuniu com Milei); e Benjamin Chow, da Meteora, plataforma de finanças ligada a memecoins como a $Libra.
As mais de 200 vítimas afirmam que as três empresas “orquestraram um lançamento injusto da criptomoeda, supostamente enganando os compradores e prejudicando esses investidores”. Descreve a iniciativa como “decepcionante, manipuladora e fundamentalmente injusta”.
O texto da ação coletiva segue: “Promoveram a $Libra como uma iniciativa significativa para estimular o crescimento na Argentina ao financiar pequenas empresas, startups e projetos educacionais, mas fizeram uma estrutura que inflou artificialmente o valor inicial da moeda, criando a ilusão de um mercado estável que nunca existiu.”
“Controlaram o preço e manipularam a dinâmica do mercado. Tiraram US$ 107 milhões do investimento, causando o colapso imediato de 94% do valor da criptomoeda.”
A ação menciona Javier Milei ao dizer que “os esforços de promoção da $Libra receberam o apoio de alto nível do presidente da Argentina”, o que “criou uma aparência de legitimidade”.
Os desdobramentos do caso ainda são incertos, mas poderiam fazer com que um tema sensível para Milei ganhasse projeção em um país de grande importância para sua política externa. A Casa Rosada trata os EUA como aliados de primeira hora e pilar mais importante de suas relações diplomáticas.
Além do apoio de Trump e de sua influência para decisões como o abandono de órgãos globais como a OMS (Organização Mundial da Saúde), Milei também afirmava de forma reiterada que assinaria, mais cedo ou mais tarde, um acordo de livre comércio com os EUA, alternativa que para o governo Trump, no entanto, não era viável.
Como a reportagem revelou, a estratégia argentina mudou. Agora a Casa Rosada propõe acordos comerciais e tarifários potencialmente mais simples, que poderiam não ter o caráter de livre comércio. A proposta foi aventada na última reunião do Mercosul em Buenos Aires.
Milei ainda está envolvido em mais uma crise política, desta fez fruto da manifestação com confrontos violentos realizada há uma semana em Buenos Aires e que resultou em mais de cem pessoas presas e ao menos 45 feridas, sendo uma em estado grave (o fotojornalista Pablo Grillo, 35, ferido na cabeça, que segue hospitalizado).
Seu governo já avançou contra as torcidas organizadas de futebol, buscando classificá-las como organizações criminosas, já acusou os envolvidos no protesto de insurreição e já pediu a inabilitação da juíza que liberou 114 detidos sob o argumento de respeitar o direito ao protesto e à liberdade de expressão.
Um novo desafio bate à porta: para esta quarta-feira (19) está marcado um novo protesto na capital.
Fonte: Notícias ao Minuto Read More