‘Donos de redes sociais’ não decidirão eleições na Alemanha, diz Scholz na TV
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BRELIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou em pronunciamento na TV que “donos de redes sociais” não decidirão a eleição na Alemanha. Sem citar Elon Musk, que adotou a sigla de extrema direita local, o social-democrata pediu aos alemães que “não se deixem enganar uns pelos outros”, nesta terça-feira (31).
No último fim de semana, o bilionário publicou um artigo de opinião no Die Welt, um dos jornais mais importantes do país, declarando que somente a AfD conseguiria tirar a Alemanha do “caminho da mediocridade”. Antes, em postagens no X, que comprou em 2022 e transformou em terra sem lei para seu proselitismo digital, já havia escrito que “apenas a AfD pode salvar Alemanha”; dias antes, chamou Scholz de “idiota incompetente”.
A publicação do texto de Musk gerou forte reação da mídia e do universo político alemão. O empresário ter ganhado espaço em um veículo de imprensa foi considerado pela maioria como propaganda política. A editora de Opinião do Welt, um jornal conservador, cujo CEO é amigo de Musk, pediu demissão pouco depois da polêmica publicação.
Diversos políticos criticaram a veiculação do artigo e seu teor. Friedrich Merz, principal oponente de Scholz e, de acordo com as pesquisas, o futuro premiê, declarou em entrevista que não se lembrava “na história das democracias ocidentais de tamanha interferência na campanha de um país amigo”.
Uma porta-voz do governo federal, na segunda-feira (30), afirmou que as opiniões de Musk eram uma intromissão em assuntos da Alemanha e ainda foi irônica ao dizer que “a liberdade de expressão também contempla o nonsense”. O empresário gosta de se descrever como um “absolutista” da liberdade de expressão, argumento que usa para justificar a falta de moderação de conteúdo no X.
Em seu texto, justificou que deveria participar do debate público por ter feito “investimentos significativos” no país. O principal deles é uma fábrica da Tesla, nas cercanias de Berlim, que sofre com protestos de ambientalistas por ter se instalado em uma área de floresta. Um dos partidos que mais se opôs ao projeto foi justamente a AfD.
Musk, que despejou cerca de US$ 250 bilhões na campanha de Donald Trump nos EUA e trabalha com a desenvoltura de um eleito na montagem de sua equipe de governo, vem usando o X para turbinar populistas de direita e extrema direita em diversas partes do mundo. No Brasil, colidiu com o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que chegou a tirar o X do ar por quase dois meses no país.
As eleições para o Parlamento alemão estão marcadas para 23 de fevereiro. Foram antecipadas depois que a coalizão de governo montada por Scholz, há três anos, ruiu por divergências internas e impopularidade. O país vive uma crise econômica, um parque industrial defasado e ocioso e espremido ainda por uma guerra comercial com a China e a ameaça do aumento de tarifas da segunda gestão Trump.
Além de ter integrantes investigados por neonazismo e xenofobia, a AfD, Alternativa para Alemanha, chama a atenção pelo receituário econômico. O partido defende a saída do país da União Europeia e da zona do euro, algo inconcebível para a maior economia do continente.
Ainda assim, ocupa o segundo lugar nas pesquisas de opinião, à frente do SPD de Scholz, com ofertas populistas como fim da imigração, de inúmeras exigências ambientais e da regulação excessiva.
Apesar da chance de obter uma bancada histórica, a AfD deve ser preterida na formação de governo. Os outros partidos se recusam a fazer coalizão com a sigla por suas posições extremadas.
Fonte: Noticias ao Minuto Read More